Sábado, Novembro 23, 2024
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Alemanha quer ampliar parceria com América Latina no clima

Há seis meses, um pouco da cidade de Bonn, na Alemanha, percorre todos os dias as ruas da metrópole mais alta do mundo, na Bolívia. Trata-se do serviço “Médico em sua casa”, composto por seis carros elétricos que transportam profissionais de saúde aos locais mais distantes de La Paz. Uma parceria entre as duas cidades, o modelo combina saúde com proteção climática e foi financiado pelo Ministério de Cooperação Econômica da Alemanha (BMZ).

“A população tem muita confiança porque sabe que, em casos de emergência, os carros chegam a qualquer lugar rapidamente. A cidade de Bonn nos ajudou muito porque queremos continuar desenvolvendo o tema mobilidade elétrica sustentável”, conta María del Carmen Rocabado, da Secretaria Municipal de Planejamento de La Paz.

A proteção do clima e a adaptação às mudanças climáticas estão no centro da cooperação bilateral, que conta ainda com a instalação de sistemas fotovoltaicos nos telhados de La Paz. Há também projetos pilotos contra a escassez de água, para a criação de sistemas de alerta em caso de risco de deslizamento de terra e para reciclagem de vidro, papel e plástico a fim de melhorar a gestão de resíduos.

Em novembro, uma delegação boliviana deve visitar Bonn novamente. Como muitas das 130 cooperações municipais existentes entre Alemanha e América Latina, La Paz e Bonn querem elevar a parceria a outro patamar. “Queremos implementar um plano climático eficaz, que também meça de forma confiável o efeito estufa. Também estamos interessados em expandir a cooperação para um trio, incluindo Oxford”, afirma Rocabado.

São histórias de sucesso como essa que a ministra de Cooperação Econômica da Alemanha, Svenja Schulze, gosta de mencionar quando fala das novas perspectivas de parceria com países da América Latina e Caribe. A isso se somam as recentes viagens de integrantes do governo alemão à região: o chanceler federal Olaf Scholz esteve no Brasil, Argentina e Chile, no início do ano; a ministra do Exterior, Annalena Baerbock, e o ministro do Trabalho, Hubertus Heil, estiveram no Brasil, Colômbia e México; e a própria Schulze viajou ao Brasil.

Durante anos, a Alemanha enalteceu os laços estreitos com a América Latina, e agora parece que o governo está finalmente transformando palavras em atos. Isso se relaciona ao fato de Berlim esperar um apoio maior da região à Ucrânia, após a invasão do país pela Rússia. A Alemanha sofre ainda com a escassez de mão de obra qualificada, principalmente no setor da enfermagem, e quer solucionar o problema com profissionais da América Latina. Além disso, o novo ouro do setor energético, o lítio, é essencial para a transição da mobilidade na Alemanha.

Schulze também se preocupa com um dos problemas atuais mais urgentes: as mudanças climáticas – a razão pela qual ela deseja iniciar um novo capítulo nas relações. “A Alemanha faz bem em cuidar e intensificar a sua cooperação com a América Latina, pois a nossa ordem mundial será cada vez mais multipolar. Nesse sentido, é claro para nós que dependemos uns dos outros. Sem os países da América Latina não seremos capazes de controlar problemas globais como as mudanças climáticas”, afirmou a ministra durante uma coletiva de imprensa.

Proteção conjunta do clima como maior desafio
As mudanças climáticas atingem a América Latina com toda a força no momento: Montevidéu está prestes a ficar sem água potável; incêndios florestais no Chile e na Argentina elevaram as emissões de CO2 ao maior nível dos últimos 20 anos; e no México, uma onda de calor, com temperaturas superiores a 50 °C, já deixou mais de 100 mortos.

Pelo clima, a ministra quer ajudar o Brasil a acabar com o desmatamento ilegal da Amazônia, e, com parcerias como a de La Paz e Bonn, ela deseja impulsionar a expansão de energias renováveis para alcançar neutralidade climática da economia.

“Isso significa que parceiros que seguirem objetivos específicos para eliminar os combustíveis fósseis recebem, em contrapartida, o apoio da Alemanha”, disse Schulze, acrescentando que quer alcançar a população mais pobre com projetos de proteção climática. “No Peru, em Lima e em grandes cidades, estamos financiando ciclovias rápidas, pois a parcela da população de bairros mais pobres depende da bicicleta. Muitas vezes, eles não têm condições de pagar passagens de ônibus.”

Maior atenção às mulheres
Além dos esforços conjuntos para uma maior proteção climática, a Alemanha quer fomentar a Corte Interamericana de Direitos Humanos, para apoiar a região no combate à alta criminalidade – uma em cada três mortes violentas do mundo ocorre na América Latina.

Já a discriminação estrutural de mulheres deve ser combatida com uma política de desenvolvimento feminista. Um dos objetivos é aumentar a taxa de emprego entre as mulheres, que atualmente está em 49% na região.

“As mulheres devem ser representadas igualmente em cargos de liderança, nos serviços públicos, e grêmios. Elas também precisam ter acesso a recursos financeiros, como propriedades de terra e empréstimos. Focar em mulheres pode se tornar um verdadeiro impulsionador do desenvolvimento da América Latina”, destacou a ministra.(DW)

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