A Vale espera eliminar até 2028 as barragens, diques e empilhamentos drenados a montante que possui na cidade de Itabira, na região Central de Minas Gerais. Ao todo, são dez barragens no município, onde a mineradora começou as atividades há 82 anos. Deste total, seis já tiveram a descaracterização completa. Neste ano, a mineradora iniciou as intervenções no Dique 1B em abril, e planeja começar os trabalhos no Dique 1A em junho. Para 2025, o planejamento é iniciar o processo de descaracterização de outras duas barragens.
“É um processo que está sendo feito nessas estruturas para que elas possam perder essa característica de retenção de rejeitos”, explicou o gerente de geotecnia e hidrogeotecnia da Vale em Itabira, Miguel Paganin.
As estruturas a montante são semelhantes às que se romperam em Mariana (2015) e em Brumadinho (em 2019). Para o processo de descaracterização, a mineradora tem construído Estruturas de Contenção a Jusante (ECJs), que têm como objetivo assegurar a segurança de comunidades próximas. Uma delas deverá ser instalada no Sistema Pontal, próxima aos diques Minervino e Cordão Nova Vista.
As ações fazem parte do Programa de Descaracterização de barragens a montante da Vale, que começou a ser implantado em 2019. Desde então, das 30 estruturas previstas, 13 já foram eliminadas — sendo nove em Minas Gerais e três no Pará. Cerca de R$ 7 bilhões já foram investidos desde que a operação teve início.
“As soluções são customizadas para cada estrutura e estão sendo realizadas de forma cautelosa, tendo como prioridade, sempre, a segurança das pessoas, a redução dos riscos e os cuidados com o meio ambiente”, garante a mineradora.
Filtragem de rejeitos
Com a eliminação das estruturas, a Vale irá continuar continuar as operações por meio dos sistemas de filtragem e pilhas de disposição de estéril e rejeito (PDER). “Esse modelo é o que temos de mais avançado na engenharia. É um processo seguro porque a gente garante o controle tecnológico de todo o material que está sendo empilhado”, garante o gerente Miguel Paganin.
O processo consiste na retirada da água do resíduo, o que evita a ocorrência de liquefação. “Isso acontece por causa de três fatores: água, o fato do material ser suscetível à liquefação e algum gatilho. Quando você tira um desses elementos, ela (a liquefação) não ocorre”, acrescenta o gerente, justificando uma maior segurança.
Para realizar o processo, a mineradora instalou quatro plantas de filtragem em Minas Gerais, sendo duas na cidade de Itabira — nas Minas Conceição e Cauê. Juntas, elas possuem a capacidade de filtrar 80% do material, o que equivale a produção de 36,02 milhões de toneladas por ano.
“O risco de contaminação do solo e do ar, além de erosão, é o mesmo nas pilhas de estéril. Mas temos vários processos para reduzir esses impactos, como, por exemplo, o controle da água, que vai para as estruturas de contenção, além do monitoramento”, garante.
Em janeiro deste ano, uma estrutura similar, da Mina Pau Branco, da Vallourec, transbordou e invadiu a BR-040, que liga Belo Horizonte ao Rio de Janeiro. Veículos que passavam pela rodovia foram afetados. “A gente protege todas as faces com materiais rochosos, então a possibilidade de ocorrência é mínima. O processo está sendo desenvolvido para garantir essa segurança “, indica o gerente de geotecnia e hidrogeotecnia da Vale em Itabira, Miguel Paganin. Segundo ele, o processo é mais caro e difícil de realizar quando se comparado às barragens a montante.
Monitoramento das estruturas
A Vale garante que todas as estruturas a montante no país estão inativas e são monitoradas permanentemente pelos Centros de Monitoramento Geotécnico (GMCs) da empresa. Conforme a mineradora, são cerca de dois mil instrumentos utilizados para a vigilância dessas estruturas. Os centros funcionam 24h durante toda a semana.
Entretanto, no início deste mês, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) emitiu uma recomendação à mineradora cobrando maior transparência de seus atos, após a estrutura da barragem Forquilha III, em Ouro Preto, apresentar uma anomalia de pontuação 10 (a mais grave existente) e a empresa não cumprir a legislação, que ordena que esse tipo de ocorrência seja comunicada às autoridades em até 24h.
A empresa só teria alertado os órgãos envolvidos após cinco dias da constatação. A barragem está em nível 3 de emergência desde 2019, que indica para o risco iminente de seu rompimento.
Na ocasião, em nota enviada para a reportagem de O TEMPO, a mineradora alegou que comunicou os órgãos competentes “prontamente”. Além disso, a mineradora lembrou que desde 2021 está pronta a Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ), que tem Declaração de Condição de Estabilidade (DCE) positiva vigente e seria capaz de conter os rejeitos em caso de rompimento.
* O repórter viajou a Itabira a convite da Vale/O Tempo