O Tribunal Constitucional da Romênia anulou nesta sexta-feira (06/12) o primeiro turno das eleições presidenciais, vencidas pelo candidato da ultradireita e pró-Rússia Calin Georgescu, e determinou que o pleito deve ser refeito.
A decisão unânime do tribunal superior de anular o processo eleitoral, algo inédito em 35 anos de democracia no país balcânico, acontece a apenas dois dias da data inicialmente marcada para o segundo turno entre o ultranacionalista Georgescu e a candidata pró-Europa Elena Lasconi.
“O processo eleitoral para a escolha do presidente da Romênia será reiniciado na sua totalidade, cabendo ao governo estabelecer uma nova data para as eleições”, decidiu o tribunal.
O breve comunicado que anuncia a decisão não fornece informações sobre os motivos da anulação, que provoca uma nova convulsão em um país que vive um terremoto político desde que Georgescu, contra todas as projeções, venceu o primeiro turno, com 22,9% dos votos – as pesquisas de intenção de votos indicavam que ele teria 6% dos votos.
A decisão acontece depois de vários relatórios de inteligência terem acusado a campanha de Georgescu de ter sido impulsionada por uma estratégia de interferência ligada a um “ator estatal”, identificado pela imprensa romena como a Rússia. As acusações foram desqualificadas pelo atual presidente, Klaus Iohannis, e por Moscou.
TikTok e Telegram na mira
A União Europeia já havia a ordenado o congelamento de dados do TikTok associados à campanha. A determinação é amparada pela Lei dos Serviços Digitais da UE (DSA, na sigla em inglês), aplicável a plataformas de rede social e empresas de tecnologia que operam na Europa.
Relatórios de inteligência indicam que a “promoção agressiva” de Georgescu recebeu um financiamento externo não declarado de mais de um milhão de euros, pagamentos a influenciadores e técnicas avançadas para evitar a detecção do uso de “bots” – apesar de o candidato afirmar não ter gasto nada em sua campanha.
Há a suspeita de que uma rede de 25 mil contas no TikTok e grupos de Telegram coordenados desde 2022 ampliou a força do político. Foram registrados 85 mil ataques cibernéticos contra a Romênia atribuídos à Rússia, destinados a dividir a sociedade e a promover discursos antiocidentais.
Ultradireitista, fundamentalista cristão ortodoxo e admirador do líder russo Vladimir Putin, Calin Georgescu era um candidato relativamente desconhecido nas eleições, mas surpreendeu ao se revelar o mais bem votado no pleito de 24 de novembro.
O candidato não contou com o apoio de nenhum partido, quase não deu entrevistas ou comícios e centrou sua campanha nas redes sociais, especialmente no TikTok.
Estas eleições são encaradas pelos observadores como cruciais para o futuro do país com quase 20 milhões de habitantes, que faz fronteira com a Ucrânia, que enfrenta um ataque russo em grande escala desde fevereiro de 2022.
A Romênia é um país de regime semipresidencialista. O presidente é o chefe do Estado, enquanto a chefia de governo cabe ao primeiro-ministro. Apesar disso, analistas dizem temer que uma vitória de Georgescu possa levar a um isolamento internacional do país e à mudança de sua postura pró-UE.
Nas eleições parlamentares, realizadas no último domingo (01/12), partidos de ultradireita tiveram bom desempenho, mas foram os social-democratas que emergiram como maior força política e esperam, por isso, poder compor um governo pró-UE.
*Por DW