Uma tendência e um desafio para os governadores que buscam se chancelar como os herdeiros de um contingente eleitoral significativo do espólio de Jair Bolsonaro (PL) podem ser constatados a partir do último levantamento a respeito da aprovação das gestões estaduais feito pela consultoria Quaest.
Se o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda se posiciona como favorito contra os não incumbentes, a alta taxa de aprovação de candidatos à direita em estados governados por estas lideranças pode ameaçar a continuidade de uma gestão petista — ainda mais se o candidato do PT em 2026 não for o próprio Lula.
Em Goiás, por exemplo, segundo a Quaest, o já declarado pré-candidato à presidência da República Ronaldo Caiado (União Brasil) é aprovado por nada menos do que 88% da população.
No Paraná, Ratinho Júnior (PSD) tem 81% dos eleitores aprovando a atual gestão. Romeu Zema (Novo-MG) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) gozam de aprovação de 64% e 61% dos eleitores, respectivamente.
Nestes estados sob gestões à direita, apenas em Minas Gerais Lula tem aprovação superior à rejeição. Lá, o atual governo é aprovado por 51% e rejeitado por 47% — número inferior ao de Zema.
Em Goiás, a gestão petista é rejeitada por 56% dos eleitores e aprovada por 41%. Em São Paulo, 55% dos eleitores avaliam a gestão de Lula negativamente. No Paraná, 53% reprovam o atual governo, ante 44% que o aprovam.
Segundo Guilherme Russo, diretor de Inteligência da Quaest, “os quatro governadores são muito bem avaliados em seus estados. Obviamente, Paraná e Goiás tem populações menores, têm um peso menor do que uma boa avaliação de Tarcísio, por exemplo, que governa um estado muito populoso”.
Se as eleições municipais chancelaram partidos do centro e da direita como os grandes vencedores, a falta de unidade para chancelar um candidato do campo opositor ao governo Lula apresenta-se como a maior dificuldade do campo da direita.
O MDB e o PSD foram os partidos que mais elegeram prefeitos em capitais e vão governar mais de 26,8 milhões de habitantes. O União Brasil vem logo em seguida, à frente do PL, do PP, do Podemos e do Republicanos.
O PT governará apenas uma capital a partir de 2025. O Centrão vai administrar cerca de 62% dos municípios brasileiros.
Com Jair Bolsonaro inelegível, a miríade de pré-candidaturas ou pleiteantes — ou a ausência sólida de qualquer uma — é o principal entrave para que o campo conservador se posicione de forma mais efusiva em torno de apenas um candidato.
Mas a avaliação extremamente positiva dessas gestões acende um alerta no Palácio do Planalto e consolida a possibilidade de uma candidatura sólida caso uma dessas lideranças consiga nacionalizar seu nome a menos de dois anos do próximo pleito.
“Esses nomes esperam ainda o cenário que envolve se Bolsonaro se mantém inelegível ou não. Essa é uma primeira dificuldade, para não se indispor com ele ou virar alvo do governo. A segunda dificuldade: se tornar conhecido fora de seu estado, mas com projeção positiva. Ao fazer isso, tem que tomar cuidado para não parecer ‘candidato demais’” e ser criticado por quem apoia Bolsonaro”, afirmou Russo.
Caso o campo da direita consiga superar suas divisões e consolidar uma candidatura única e competitiva, a força dessas lideranças estaduais pode criar um cenário eleitoral altamente desafiador para o PT em 2026. O desempenho dos governadores à direita não só evidencia o descontentamento com a atual gestão federal em regiões estratégicas, mas também sinaliza a possibilidade real de uma nova alternância de poder — especialmente se Lula não estiver na disputa.
Russa ressalta que “a expectativa é de uma candidatura forte do campo da direita”.
Diante de uma tendência à direita e um agravamento das contas públicas que deve ser sentido pela população nos próximos anos, a partir de decisões erráticas do ponto de vista fiscal, o Planalto precisará reforçar suas alianças e ampliar sua base de apoio para conter o avanço conservador e evitar que a popularidade desses governadores se converta em uma derrota eleitoral para o PT.
*Por CNN BRASIL