Acusado de ser um “forasteiro” na Câmara Municipal de Belo Horizonte, o vereador Lucas Ganem (Podemos) tem enfrentado dificuldades de convívio na Casa. Isolado pelo próprio partido e pela maioria dos vereadores, Ganem foi excluído até de um grupo de WhatsApp dos parlamentares. Alvo de um pedido de cassação desde que foi diplomado como vereador, ele é um dos únicos que não faz parte de um grupo com os outros parlamentares. Segundo apurou a coluna, ele só estaria em um grupo oficial da Casa, utilizado para repasse de comunicados do presidente da Câmara Municipal, Juliano Lopes (Podemos).
Sempre sozinho nas sessões plenárias, o vereador é tratado de forma cordial por outros vereadores, mas sempre é excluído das rodas de conversa. Segundo vereadores, parte disso se deve a Ganem ter iniciado o mandato com uma “traição” ao partido durante a eleição da Mesa Diretora, quando deixou de apoiar o correligionário Juliano Lopes para defender Bruno Miranda (PDT).
Outra razão que parece desagradar outros parlamentares é o histórico do parlamentar com a cidade. Ele reside oficialmente em Belo Horizonte há pouco mais de um ano. A mudança de domicílio no Tribunal Superior Eleitoral foi realizada em 19 de fevereiro de 2024, oito meses antes da eleição municipal.
De uma família de políticos majoritariamente paulistas, Lucas do Carmo Navarro é nascido e criado em São Paulo. Ele morou em Indaiatuba, no interior do Estado, pelo menos até 2023, enquanto era servidor da Câmara Municipal da cidade. O vereador de BH usa no meio político o sobrenome do primo, o deputado federal Bruno Ganem (Podemos-SP). O nome também é utilizado por outros familiares e assessores, incluindo a mãe de Lucas, Simone Ganem (Podemos-SP), eleita como vereadora na capital paulista. A questão “incomoda” alguns parlamentares, tendo motivado o pedido de cassação feito pelo ex-vereador Rubão (Podemos). Derrotado na disputa pela reeleição e primeiro suplente da legenda, o ex-parlamentar afirma que Ganem não mora em BH, nem tem vínculos com a capital mineira.
“A turma cumprimenta, mas ninguém quer ficar muito perto. A questão da (eleição da) Mesa Diretora arranhou bastante”, afirmou um vereador que apontou que a falta de experiências de Ganem na capital mineira virou “motivo de piadinha” nos bastidores da Câmara. “No primeiro dia, ele parecia um menino chegando em uma escola nova”, avaliou outro colega que destacou que diferente dos recém eleitos, Ganem chegou sem conhecer as pautas da cidade nem os vereadores da antiga legislatura, reeleitos para esta.
“Ele é um forasteiro, nunca havia pisado em BH e se utilizou de banco de dados para enganar as pessoas de da capital mineira. Esperamos que o TRE corrija esse estelionato eleitoral que tivemos nessa última eleição”, acusou outro vereador sob condição de anonimato. Fontes da Câmara Municipal ainda afirmam que Ganem é “totalmente ausente da Câmara”, apesar de ter participado de todas as sessões realizadas neste ano. Ele é o parlamentar que mais protocolou projetos de lei, foram 14 até o momento.
“O Ganem não teve acolhimento após mudar de lado (na eleição da Mesa Diretora). Mas esse isolamento vem do Podemos e de alguns outros que integram a família Aro, não dos demais vereadores”, minimizou um parlamentar. O atual presidente da Câmara Municipal, Juliano Lopes, nega qualquer tipo de isolamento do parlamentar no partido, assim como o líder da legenda na Casa, José Ferreira.
Isolado pelos colegas, Ganem teria encontrado apoio entre a ala da esquerda, que conta com sete parlamentares. Fora da comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana, o vereador tenta articular uma frente parlamentar que trate apenas da causa animal, principal pauta de seu mandato. Segundo apurou a coluna, a bancada de vereadores do PT e Psol apoia a ideia. “Estão tentando isolar ele desde a eleição da Mesa (Diretora), mas ele está bem acolhido por diferentes grupos. Vi muita gente o tratando bem”, defendeu um parlamentar.
Procurado pela coluna Aparte, o vereador nega que seja isolado entre os vereadores. “Não há qualquer dificuldade em relação ao meu partido. Em relação aos meus colegas parlamentares, não sinto tal isolamento citado. Tenho uma excelente relação com todos os vereadores da casa, tenho certeza que juntos iremos trabalhar em prol da nossa cidade”, declarou. Questionado sobre a ausência de um grupo no WhatsApp, o parlamentar não se manifestou. No entanto, a vereadora Marcela Trópia (Novo), que teria criado o grupo no primeiro dia de mandato, afirmou que inicialmente Ganem não teve interesse em participar, assim como Tileléo (PP), que disse não saber da existência do grupo.
*Por O TEMPO