Dois anos após oficializar a compra da Sociedade Anônima do Cruzeiro na sede social do Barro Preto, após uma reunião tensa com conselheiros, Ronaldo vive o seu momento de maior insatisfação à frente do negócio. Protestos da torcida, que incluíram a queima de sua imagem, deixaram o Fenômeno desgostoso, irritado e com desejo de passar a operação da SAF adiante. A seguir, a Itatiaia traz os bastidores desse imbróglio.
No momento, o empresário Pedro Lourenço, dono da rede varejista Supermercados BH, surge como o principal interessado em se tornar o novo sócio majoritário do Cruzeiro, com a compra de 90% das ações que estão sob controle da Tara Sports, empresa de Ronaldo.
Mas a operação não é simples, tanto pelo alto valor do investimento como por entraves contratuais previstos quando da assinatura do contrato entre Ronaldo e o Cruzeiro (associação).
Valor da SAF
Do ponto de vista financeiro, Ronaldo assumiu, em 2022, o compromisso de investir R$ 50 milhões na assinatura do acordo e R$ 350 milhões nos cinco anos seguintes por aporte de capital e/ou receitas incrementais acima da média apurada de 2017 a 2021 (em torno de R$ 220 milhões).
Nesse período de gestão, o SAF gerida pelo Fenômeno jamais atualizou para a torcida o valor de aportes ou incrementos.
O balanço financeiro da SAF no exercício 2022 – o primeiro da gestão de Ronaldo – mostrou que o faturamento bruto da empresa foi de R$ 150,35 milhões, abaixo da média do clube entre 2017 e 2021 (em torno de R$ 220 milhões). Já o balanço financeiro de 2023 precisa ser divulgado pela SAF até o dia 30 de abril.
Independentemente do valor de aportes e incrementos registrados pela SAF até o momento, a Itatiaia apurou que Ronaldo estaria disposto a vender o controle dos 90% das ações por R$ 700 milhões. A princípio, essa condição não seria aceita por Pedro Lourenço. O empresário teria interesse na aquisição pelas mesmas bases fechadas por Ronaldo em 2022 (R$ 400 milhões).
O detalhe é que, em março de 2023, Pedro Lourenço já aportou R$ 100 milhões na SAF a partir de um acordo feito com Ronaldo. À época, a informação foi adiantada pela Itatiaia. Posteriormente, o clube se manifestou e confirmou a operação, sem revelar o valor.
“Devido às notícias divulgadas e diversas especulações em torno da negociação, a Tara esclarece que o acordo contempla uma subscrição de debêntures conversíveis – que já estava planejada – sendo que os recursos captados pela Tara serão utilizados exclusivamente para necessidades operacionais do Cruzeiro SAF.
Vale esclarecer também que a operação não caracteriza, inicialmente, mudança no quadro societário e nem qualquer interferência na gestão do Cruzeiro SAF”, completou a nota da SAF.
Com aquele investimento, Pedro Lourenço teria o direito, no futuro, de converter as suas debêntures em ações do Cruzeiro.
Em 2022 e 2023, Pedro Lourenço também arcou com os custos das obras de modernização na Toca da Raposa II. A reforma incluiu mudanças no hotel do CT, nos escritórios do administrativo, alterações nos gramados e maior integração entre os setores.
O valor desse investimento nas melhorias não foi informado.
Logo, num cenário de compra da SAF, Pedro Lourenço teria “apenas” que completar o valor de um eventual acordo com Ronaldo Nazário, pois já fez aportes robustos no clube.
Lock-up, um dos entraves para a venda prematura
Um dos entraves para o repasse do controle da SAF do Cruzeiro está no item 10 dos ajustes feitos no contrato de aquisição, em março de 2022. Ronaldo deveria se manter como sócio majoritário por 60 meses (cinco anos) ou até cumprir integralmente o compromisso de investimento dos R$ 350 milhões adicionais (R$ 50 milhões, em tese, foram aportados no início do contrato).
No momento, Ronaldo não atingiu nem 30 meses de gestão da SAF e nem de longe aportou os R$ 350 milhões adicionais, seja por meio de investimentos próprios ou por meio de receitas incrementais.
Resta saber se há brechas no contrato que permitiriam a desistência de Ronaldo na operação do Cruzeiro e o repasse dos seus percentuais a terceiros.