Cerca de 98% de chance de cura. De acordo com João Henrique Reis, mastologista e colaborador do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, esse é, em geral, o prognóstico quando o câncer de mama é descoberto ainda na fase inicial. No entanto, a cada semana, são registradas 33 mortes por conta da doença em Minas Gerais. De acordo com especialistas, esse cenário mostra a importância de aumentar a conscientização sobre a enfermidade e de pensar em mais ações na área da saúde.
Segundo o Painel de Monitoramento do Tratamento Oncológico da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), até o mês de outubro deste ano, 7.602 mulheres foram diagnosticadas com câncer de mama no Estado. Os dados mais recentes sobre óbitos, conforme a pasta, consideram o período de janeiro a agosto de 2024: foram, ao todo, 1.064 vidas perdidas para a doença.
“O câncer de mama se tornou o câncer que mais ameaça a vida da mulher. É um problema de saúde pública. São várias as causas que levam à essa enfermidade”, diz Reis, citando a obesidade, a falta de atividade física e o fato de as mulheres terem menos filhos atualmente.
Conforme o Ministério da Saúde, o câncer de mama responde por aproximadamente 28% dos casos novos de câncer em mulheres. Homens também podem ser diagnosticados com a doença, mas é raro, representando menos de 1% dos casos. Ainda segundo a pasta, a enfermidade é relativamente rara antes dos 35 anos. Já acima dessa faixa etária, a incidência cresce de maneira progressiva, especialmente depois dos 50 anos.
“A principal característica do câncer de mama é que a evolução é lenta, o que permite o rastreamento e a intervenção precoce. No entanto, se não houver intervenção precoce, o câncer vai crescer, e o tratamento será feito em uma fase mais avançada, é mais agressivo e tem chance de cura menor”, diz Reis.
Segundo o mastologista, se, por um lado, enquanto é descoberto na fase inicial, a chance de cura do câncer de mama pode chegar a 98%, em caso de a doença estar mais avançada, a probabilidade de eliminar a enfermidade cai para 50%. Por isso, ele defende a importância da informação, prevenção e do atendimento médico.
Desafios
Fundadora e presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, Marlene Oliveira chama a atenção para o fato de que ainda há muitos desafios em relação ao combate ao câncer de mama. Em Minas Gerais, por exemplo, ela lembra que há um grande número de municípios, o que pode resultar em um vazio assistencial, uma vez que pode ser necessário um deslocamento muito grande para acessar as unidades de saúde.
“Será que essas mulheres estão tendo um Outubro Rosa, ou estão tendo um Outubro Cinza?”, pergunta ela. “Muitas vezes, as mulheres não conseguem ter acesso à consulta médica, a mamógrafos, a ultrassom, à especialista”, diz ela.
Marlene lembra que a campanha Outubro Rosa é muito importante, mas precisa acontecer todos os dias do ano. “Tem que ser permanente. Essas informações têm que chegar em todas as regiões, para mulheres que estão distantes dos grandes centros”, diz ela.
Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti ressalta que diversas ações são feitas no Estado para o combate ao câncer de mama. Ele lembra que foi feita uma análise sobre a qualidade dos mamógrafos existentes e da distribuição, sendo diagnosticado que muitos eram antigos.
“Além disso, tínhamos oito microrregiões que não tinham um mamógrafo. A partir daí, com investimento de mais de R$ 70 bilhões, nós conseguimos trocar os mamógrafos de tecnologias mais antigas para mamógrafos digitais e conseguimos também que essas oito microrregiões que não tinham um pudessem adquirir”, diz ele.
Baccheretti lembra que o mamógrafo é apenas uma parte de todo o processo, e que, por isso, cada região que foi determinada para tê-lo também tem garantia para a próxima etapa, como consulta com especialista ou “outro exame como ultrassom de mama ou uma biópsia caso seja necessário para dar o diagnóstico definitivo”, ressalta ele.
Passo a passo
Em nota, o Governo de Minas explicou que o primeiro atendimento das mulheres acontece na Atenção Primária à Saúde, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).
“As pacientes são então encaminhadas para os serviços da atenção de média complexidade para a realização da mamografia. Nos municípios que não contam com o serviço de mamografia, elas são encaminhadas para a realização do exame nos polos microrregionais”, ressaltou.
Já em 2022, foi implementado o Transporta SUS. “Entre os anos de 2022 e 2023, foram investidos R$152 milhões para a aquisição de 262 micro-ônibus. Em setembro de 2024, foi aprovada a destinação de mais R$114,8 milhões para a aquisição de 188 novos micro-ônibus do Transporta SUS, que vão atender 199 municípios mineiros. Ao todo, são 450 veículos disponibilizados para 429 municípios”, informou o Governo de Minas.
Além disso, carretas itinerantes, vinculadas à rede de atenção à saúde, visitam diversos municípios para realizar mamografias e prestar esclarecimentos.
Cura
A escritora Silvia Contaldo, de 67 anos, conhece de perto a luta contra o câncer. Ela passou por duas mastectomias, em 2008 e 2021. Em 2022, ela escreveu o livro “Mama Mia”, com relatos pessoais sobre a doença. Já no dia 26 de outubro será lançado o “Mama Nostra”, que reúne relatos de mulheres vítimas do câncer de mama, reconfigurados em prosa fictícia. Ela lembra que o diagnóstico da doença não é uma sentença de morte.
“Nas duas vezes, o que foi salutar foram os exames na hora certa. A gente não adia certos compromissos, e esse também não pode ser adiado. Nenhuma doença é fácil. Muitas pessoas até hoje não querem pronunciar a palavra câncer, como se fosse uma palavra capaz de transformar a realidade, mas é preciso pensar em prevenção “, diz ela.
Silvia ressalta que as mulheres não deixam de ser mulheres por terem menos um peito. “Nenhuma mulher deve se envergonhar”, diz ela, que também afirma que poderia ser feito mais por essa mulheres. “É triste, mas infelizmente nós temos um descaso com a saúde de modo geral. Não pode ter só Outubro Rosa, pois o câncer, como qualquer outra doença, não conhece calendário”, reforça.
Saiba os sintomas do câncer de mama
- Edema cutâneo (na pele), semelhante à casca de laranja;
- Retração cutânea;
- Dor;
- Inversão do mamilo;
- Hiperemia;
- Descamação ou ulceração do mamilo;
- Secreção papilar, especialmente quando é unilateral e espontânea.
Fonte: Ministério da Saúde